2.3.12

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Parece homenagem, mas primeiro foi mesmo coincidência e aí entrei no clima. Só notei que dois dos discos indicados de hoje vinham de Paris quando comecei a escrever. E a França, todo mundo sabe, é o país da moda nos cadernos de cultura. ‘O Artista’ ganhou cinco Oscars - inclusive melhor filme, diretor e ator, e ‘A Invenção de Hugo Cabret’, de Scorsese, mais cinco usando como cenário a cidade luz da década de 30. Decidi então assumir o post 'à francesa' e escolhi um terceiro álbum também de um parisiense para fechar o pacote. Vamos a eles.


Blundetto - ‘Warm my Soul’ (2012)

Pode anotar o nome porque o som que o cara faz é coisa finíssima. Conhecido primeiro como Max Guiget, o produtor, apresentador e agora músico Blundetto hoje é celebridade, mas já tinha seus fãs antes mesmo do primeiro disco por causa da carreira bem sucedida na Rádio Nova, estação mais hypada de Paris. Blundetto mora entre Barbès e a Gare du Nord e mantém em casa um estúdio onde passa horas criando suas próprias faixas misturando jazz, dub, reggae e hip-hop, tudo embalado em um climão de trilha de cinema. Tinha uma vida tranquila, isso até 2010... Quando começou a mostrar suas primeiras criações, os amigos elogiaram, ele se empolgou e decidiu chamar nomes de peso para fazer os vocais ou dividir novas faixas. Surgiu assim o nome Blundetto e o elogiadíssimo ‘Bad Bad Things’, seu primeiro álbum, com convidados do naipe de Budos Band (grupo de afrobeat de NY, uma das bandas preferidas do blog), o super requisitado Shawn Lee, o lendário skatista e agora também guitarrista Tommy Guerrero, e o jazzman Chico Mann. O disco catapultou o nome Blundetto na França. Requisitado para shows, entrevistas, participações em programas de TV, o então apresentador de rádio ainda tentou evitar a nova vida de celebridade. Até conseguiu, pouco aparece, mas seu som deslanchou ganhando o mundo. 

Em 2012, Blundetto voltou com mais um super disco que já aparece na lista dos preferidos de revistas e DJs pelo mundo. ‘Warm my Soul’ repete a fórmula dos convidados com Shawn Lee e Tommy Guerrero ainda na banda, mas entre os vocalistas são todas caras novas. Blundetto explicou que os convites surgem por acaso, na hora. Foi assim com o jamaicano Coutney John, que ele conheceu em viagem à Kingston e depois trocou demos; na parceria com o rapper Aqeel, costurada durante uma visita ao seu estúdio; ou ainda no improvável encontro com os quase vizinhos da banda de ethio-jazz Akale Wube. É um disco daqueles para se tirar várias faixas para playlists de festa, para ouvir no carro, curtir na bicicleta... aqui tem mais informações sobre os discos, link para página no Facebook e, para quem se empolgar, dá até para encomendar os vinis. Abaixo, Blundetto gravando riffs de Tommy Guerrero em seu estúdio. Simples e bom demais!




Air - Le Voyage Dans La Lune (2012)

A segunda parte do 'french post' tem ainda mais clima de cinema com um filmaço lá dos primórdios bem no estilo ‘O Artista’ recém sonorizado com uma trilha para ficar na história misturando música eletrônica em tons vintage e sintetizadores viajantes. Mas, antes, vale uma contextualizada para entender a importância histórica tanto das imagens quanto das músicas.

Os irmãos Auguste e Louis Lumiére são disparados os nomes mais conhecidos da primeira fase do cinema. Afinal, é deles o título de inventores do cinematógrafo, são os pais da sétima arte. Mas foi outro francês, diretor de teatro e dublê de mágico, o primeiro a usar a película não apenas como registro de imagens do cotidiano como faziam seus contemporâneos. Com 'Cinderela', de 1899 (apenas quatro anos após A chegada do trem na estação, dos Lumière), Georges Méliès experimentou novas fronteiras usando roteiro, figurinos e até efeitos especiais. 

Seu primeiro grande filme, no entanto, foi 'Uma Viagem à Lua', de 1902, ousadíssimos para a época com suas naves espaciais e extraterrestres. Baseado em ‘Da Terra à Lua’, de Julio Verne, e ‘Os primeiros homens na Lua’, de H.G. Wells , o curta de 14 minutos é considerado a estreia do cinema na ficção científica e até hoje um super clássico, divertidísismo, muito longe de ser peça de museu. 

'Uma Viagem à Lua' sempre fez enorme sucesso entre os amantes do cinema, mas voltou a virar notícia em 1999 com a localização de uma versão colorida dada como perdida. Durante o projeto de restauração surgiu a ideia da criação de uma nova trilha, e nada mais natural do que músicos franceses para tocar o projeto. Os escolhidos foram Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel, do Air, autores do incrível álbum retrô-futurista  ‘Moon Safari’ e responsáveis por shows antológicos no Rio e em SP em 2010 (veja abaixo trechos).

A dupla foi fundo na pesquisa recriando ambientações e deixando o filme com aquela cara de que a trilha sempre esteve ali, tamanha a perfeição no casamento entre imagem e som. 

'Queríamos que soasse como se tivesse sido feito à mão, um pouco como os efeitos especiais de Méliès. Tudo foi tocado ao vivo', disse Nicolas Godin, em comunicado à imprensa.

A primeira exibição de ‘Uma Viagem à Lua’, totalmente restaurado e já com a nova trilha, aconteceu no Festival de Cannes de 2011. O DVD acaba de chegar ao mercado acompanhado de um CD com a versão expandida das músicas do Air, com 31 minutos e colaborações de Victoria Legrand, do Beach House (são dela voz e letras em ‘Seven stars’) e do trio Au Revoir Simone (que canta em ‘Who am I now?’). Agora, se ficou interessado, corre atrás da trilha, mas não deixe de assistir ao filme. Imperdível.

 


Mc Solaar - Prose Combat (1994)

Fechando as dicas francesas de hoje um disco dos anos 90 do melhor e mais bem sucedido rapper parisiense: Claude M'Barali, o Mc Solaar. Seu segundo disco, ‘Prose Combat’, de 1994, foi lançado um ano após o músico nascido no Senegal chamar atenção com uma das melhores faixas do aclamadíssimo primeiro álbum do projeto Jazzmatazz, do rapper Guru (aliás, outro discaço, um clássico na mistura do rap com jazz com convidados como Donald Byrd e Brandford Marsalis). 

Solaar tinha na época em que gravou ‘Le Bien, Le Mal’ com Guru apenas 24 anos. A sonoridade da língua francesa aliada ao seu jeito suave e tranquilo de rimar conquistaram fãs pelo mundo abrindo caminho para ‘Prose Combat’. Com 15 faixas e quase 1h de rimas movidas a samples de jazz e funk, o álbum emplacou pelo menos quatro músicas levando o nome de Solaar a ganhar destaque até na cena americana de hip-hop. O rapper ainda lançaria sete álbuns (o último, ‘Magnum 567’, é de 2010), mas ‘Prose Combat’ permanece como seu grande momento e até hoje não soa datado exatamente pelo instrumental impecável e pelo estilo cool de Solaar fazer suas rimas. Obrigatório na coleção. 

Ouça na playlist as melhores de ‘Prose Combat, mais ‘Le Bien, Le Mal’, ‘Bouge de La’, seu primeiro single de sucesso, gravado em 1990, e Caroline, da coletânea ‘Rebirth of the Cool’. Abaixo, clipe surreal mostrando Guru entrando no metrô nos EUA e saindo em Paris para rimar com Solaar.



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